Os juros existem desde que o mundo é mundo. Documentos de mais de 5.000 anos revelam que o mundo antigo tinha um sistema de crédito baseado nos produtos mais comercializados. Antes mesmo de existirem as moedas eram realizados empréstimos de cereal e prata, que facilitavam a dinâmica do comércio. Hoje temos o dinheiro.
O juro é o valor cobrado pelo empréstimo de dinheiro em um determinado período de tempo. É uma porcentagem de quanto você pegou emprestado. É como se você estivesse pagando pelo direito de usar um dinheiro que não é seu, o que acontece muito quando se usa o cartão de crédito. É como se fosse um “aluguel sobre o dinheiro”.
Pensando no Brasil separamos algumas questões importantes sobre o assunto.
1. Quem decide os juros?
O governo, através do Comitê de Política Monetária – COPOM. Ele define a taxa básica de juros no país, chamada taxa Selic. Essa taxa é a remuneração que o tesouro nacional paga para quem empresta ao governo e ele precisa de dinheiro emprestado para pagar a dívida pública. É possível emprestar dinheiro para o governo e fazer as taxas trabalharem para você. Leia mais abaixo no item 5.
Então o governo decide o quanto ele próprio vai pagar de juros para quem empresta pra ele. Essa decisão influencia todo o resto. A Selic serve como parâmetro para todas as outras taxas praticadas na economia. É de acordo com os resultados da reunião do COPOM que os bancos decidem o quanto vão cobrar de você num empréstimo, cartão de crédito, cheque especial, etc.
2. A diferença entre juros simples e compostos
Essa parte é um pouco chata, mas é importantíssimo entender para não ser enganado quando pegar um empréstimo. Os juros podem ser calculados de duas formas: simples ou composta.
Imagine que você tomou emprestado do banco R$2.000, que a taxa nesse banco é de 10% ao mês e que você terá que pagar em 6 meses. Quanto você terá de pagar no total?
Com juros simples
A porcentagem será cobrada em cima dos mesmos R$2.000 todo mês. Então se:
Empréstimo = R$2.000
Juros = 10% ao mês
Tempo para pagar = 6 meses
O valor total de juros a serem cobrados sobre os R$2.000 será de 60%.
60% de R$2.000 ou 2.000 x 0,6 = R$1.200
No exemplo você pegou R$2000, então você deve pagar esse mesmo valor mais aqueles 60%, que representa R$1.200. Você terá de pagar ao banco R$3.200 no total.
Com juros compostos
Agora fica um pouco mais complicado. Os juros serão cobrados em cima dos R$2000 apenas no primeiro mês, no segundo mês ele será cobrado em cima dos R$2000 com acréscimo dos juros do primeiro mês, no terceiro em cima dos R$2000 + juros do primeiro + juros do segundo e assim por diante. O valor da dívida é sempre corrigido e a taxa é calculada sobre esse novo valor. É a bola de neve de dívidas em que muitos brasileiros acabam caindo. E tem uma formula matemática pra calcular isso. Seguindo o exemplo:
Empréstimo (E) = R$2.000
Juros (J) = 10% ao mês
Tempo para pagar (t) = 6 meses
Total a pagar (T) = ?
No primeiro mês é cobrado 10% sobre R$2.000 = 200
O valor da dívida é então corrigido para R$2200 e no segundo mês é cobrado o juro de 10% desta vez sobre os R$2200. Para não ficar fazendo essa conta mês a mês os matemáticos chegaram a uma fórmula:
T = E (1+J)n
T = R$ 2.000 (1+0,1)6 → T = R$ 2.000 (1,1)6 → T = R$ 2.000 x 1,771561 → T = R$ 3.543,12
Você terá de pagar ao banco R$3.543,12 no total. Pra não correr o risco de errar a conta você pode calcular de forma mais fácil com essa calculadora.
3. Os juros nas diferentes formas de crédito
Existem algumas formas para ter acesso à crédito e os juros variam de acordo com cada uma delas. Abaixo as modalidades mais comuns e quanto é cobrado por ano aproximadamente.
- Cartão de crédito – 450%
- Cheque especial – 350%
- Empréstimo pessoal – 112%
- Crédito consignado – 28%
É importante saber essas taxas pois se você tiver que pagar juros, escolha pagar o menos possível. É melhor trocar uma divida cara por uma divida mais barata. Por exemplo: ao invés de parcelar a fatura do cartão de crédito é melhor pegar um empréstimo consignado, pagar a fatura inteira e ficar com uma dívida menor.
4. Brasileiro é o povo que mais paga juros no mundo!
O juro real pago por um país é calculado pela taxa básica, no nosso caso a Selic, menos a inflação. Isso pode variar muito. Hoje a taxa de juro real do Brasil está em torno de 7,30% ao ano. No site do banco central é possível ter a informação mais atualizada. Veja a taxa Selic, a inflação acumulada e faça as contas.
Uma compilação realizada em fevereiro de 2017 pela MoneYou e Infinity Asset Management, que observou os 40 países mais relevantes no cenário econômico mundial, observou que “o Brasil mantém firme o PRIMEIRO lugar do ranking como o melhor pagador de juros reais do mundo”. Isso não é motivo de orgulho, pelo contrário, isso faz com que o brasileiro pague juros demais no cartão de crédito, cheque especial, etc.
O segundo lugar é da Rússia. Estamos na frente deles com uma folga de mais de 2 pontos percentuais. Abaixo o ranking dos 10 primeiros colocados:
5. Como fazer os juros trabalharem para você
Os juros são associados, na maioria das vezes, à ideia de dívida. A pessoa fica incomodada só de ouvir essa palavra. Mas você pode fazer com que eles trabalhem a seu favor. Como dito lá no item 1 você pode emprestar dinheiro para o governo, comprando títulos públicos, e cobrar os juros dele depois através do Tesouro Direto. Esses títulos são diversos e podem render de acordo com a Selic, com a inflação, de forma fixa ou móvel. A escolha depende do gosto de quem vai comprar os títulos, que estão rendendo mais que a poupança. Isso é uma forma de investimento. E não precisa de muito dinheiro para começar a investir assim. Com pouco mais de R$30 você já consegue ser um investidor.
É possível investir no Tesouro Direto pelo seu banco, mas eles vão cobrar taxas muito altas de administração. É melhor fazer uma conta numa corretora e investir por lá. O investimento é seguro pois é garantido pelo próprio Governo Federal, ele tem a impressora de R$. É certo que ele vai te pagar.
Acesse o site do Tesouro Direto e faça os juros trabalharem para você.
Fontes
Ranking de juros real – MoneYou e Infinity Asset Management
Taxas de juros – Banco Central
História dos juros
Muito bacana o texto! Achei ele bem esclarecedor e mostra o quanto necessitamos da educação financeira para sairmos deste posto de “país dos endividados”.
Parabéns pela iniciativa 🙂
muito boa sua dicas parabens valeu 🙂